
Miguel Bastos Araújo, professor e investigador convidado da Universidade de Évora, foi distinguido com a atribuição do prestigiado galardão EBBE NIELSEN PRIZE, concedido anualmente pelo Global Biodiversity Information Facility (GBIF). O investigador utilizará o prémio de €30.000 no desenvolvimento de um projecto que visa a implementação do “Ecotron”: uma plataforma com instalações experimentais que permitirá validar previsões do impacto de alterações climáticas sobre a biodiversidade em diferentes locais – o que irá contribuir para uma tomada de decisões mais assertivas sobre estratégias de conservação. Este prémio coincide com o primeiro ano de funcionamento do Nó Português do GBIF, que foi instituído em Dezembro de 2012 no Instituto de Investigação Científica Tropical pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.
O Comité Científico do GBIF reconheceu a qualidade e o carácter inovador da pesquisa de Miguel B. Araújo na aplicação de modelos informáticos à modelação e previsão de fenómenos ambientais, especificamente relacionados com os efeitos de diferentes cenários de mudanças climáticas sobre padrões de biodiversidade a nível regional e global.
Miguel B. Araújo é investigador do Museo Nacional de Ciencias Naturales (Madrid), professor convidado da Universidade de Copenhaga (Dinamarca) e coordenador do pólo do CIBIO - Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos/InBIO Laboratório Associado na Universidade de Évora, ao abrigo da Cátedra “Rui Nabeiro” Biodiversidade.
TRABALHO PIONEIRO NO ESTUDO DO IMPACTO DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS NA BIODIVERSIDADE
A investigação de Miguel B. Araújo ao nível do impacto das mudanças ambientais na biodiversidade é reconhecida internacionalmente. O investigador especializou-se na utilização de modelos ecológicos para estudar a dinâmica de distribuição de espécies, sendo pioneiro no uso de previsões em ecologia e modelos acoplados que incorporam a dinâmica das populações e as pressões das mudanças ambientais na estimativa do risco de extinção de espécies. O seu trabalho em conservação também se tem vindo a destacar, nomeadamente no que se refere à utilização de modelos de conservação em protocolos de planeamento para a selecção de Áreas Prioritárias para a Biodiversidade.
Actualmente, Miguel B. Araújo está a criar uma experiência controlada com 120 charcos artificiais distribuídos por vários locais de Portugal e Espanha, que permitirá observar a forma como as espécies interagem em diversos ambientes. Os charcos serão expostos a diferentes factores de stress, como calor e seca, para avaliar a resposta das comunidades de espécies, simulando desta forma os impactos das mudanças climáticas.
Com a ajuda do prémio atribuído pelo GBIF, Miguel B. Araújo irá desenvolver uma proposta para o “Ecotron”, uma paisagem artificial desenhada para testar modelos de distribuição de algumas espécies de lagartos, assim como a forma como estas reagem às alterações. A plataforma experimental será formada por 48 câmaras ligadas por corredores, num ambiente totalmente controlado, o que permitirá realizar experiências para avaliar distribuições possíveis dos lagartos em diferentes condições. Para além do clima, podem ser introduzidos outros factores nestas experiências, tais como a competição com outras espécies e a presença de predadores.
MIGUEL B. ARAÚJO INCITA BIÓLOGOS A “PENSAR EM GRANDE”
Miguel B. Araújo acredita que o próximo passo para compreender melhor o impacto das mudanças climáticas consiste em desenvolver experiências ambiciosas, que permitam testar as previsões dos modelos teóricos – observando como respondem efectivamente as espécies a mudanças ambientais, em condições controladas.
O investigador acredita que os ecologistas têm concebido as suas investigações a escalas limitadas. Miguel B. Araújo refere que “para responder às grandes questões que estamos a enfrentar, e a que a sociedade está a exigir que respondamos, precisamos de pensar em grande. Temos que trabalhar de forma colaborativa, com grandes redes, e com orçamentos comparáveis aos que os físicos e astrofísicos estão a receber”. Acrescenta ainda que "é difícil perceber porque se investe tanto dinheiro para tentar descobrir se há vida noutros planetas, e tão pouco para compreender a vida no nosso próprio planeta."
UM INVESTIGADOR DE MÉRITO RECONHECIDO NACIONAL E INTERNACIONALMENTE
Miguel B. Araújo é já uma figura proeminente a nível nacional e internacional, tendo vindo a ser distinguido com diversas homenagens e prémios. O EBBE NIELSEN PRIZE 2013 junta-se agora a uma lista de distinções anteriores que inclui a eleição como titular da Cátedra “Rui Nabeiro” Biodiversidade, destinada a promover o ensino superior e a pesquisa de alto nível no âmbito da biodiversidade e alterações globais (2009-2014) e o MacArthur and Wilson Award 2013, atribuído pela Sociedade Internacional de Biogeografia em reconhecimento da notável e inovadora contribuição de um jovem investigador no domínio da biogeografia.
Notas:
O Prémio Ebbe Nielsen foi estabelecido pelo Assembleia Geral do GBIF para honrar a memória do Dr. Ebbe Schimdt Nielsen, que foi um lider inspirador nas áreas da biossistemática e da informática para a biodiversidade. O prémio é concedido anualmente a um investigador promissor, normalmente na fase inicial da sua carreira, em que combine de forma entusiasta e inovadora, investigação em biossistemática e em informática para a biodiversidade. As nomeações são submetidas pelos participantes GBIF ao Comité Científico GBIF, que selecciona o premiado. O prémio é atribuido anualmente na reunião da Assembleia Geral do GBIF. Consiste em 30000 Euros para ser usado pelo destinatário para promover a sua investigação. Para saber quais os vencedores anteriores, ver http://www.gbif.org/communications/news-and-events/ebbe-nielsen-prize/.
O Global Biodiversity information Facility (www.gbif.org) foi fundado em 2001 como uma infraestrutura científica intergovernamental destinada a prover acesso livre e gratuito a dados de biodiversidade, via Internet. Atualmente disponibiliza um acesso online único a 400 milhões de registos de biodiversidade provenientes de mais de 10000 bases de dados publicadas por cerca de 500 instituições, desde espécimes de museus colhidos desde os primeiros tempos das explorações de história natural, às observações atuais por ‘citizen scientists’ e monitorização por expedições científicas. O GBIF opera através de uma rede de nós nacionais ou temáticos, e um secretariado baseado em Copenhaga, Dinamarca. O Nó Português do GBIF foi instituído no Instituto de Investigação Científica Tropical (www.gbif.pt), estando a colaborar com as instituições nacionais para a disponibilização de dados de biodiversidade nacionais e internacionais.